domingo, 22 de dezembro de 2013

Poema para o dia seguinte

Foi mais ou menos assim: eu acordei você ainda estava em mim. Não há nada que explique, nada que justifique tamanha displicência. Eu já havia saído daí, já havia dormido e, quando acordei, você ainda estava em mim.
Remexi-me entre os lençóis e coloquei-me a buscar remédio para tal problema. Nada me parecia plausível ou lógico, remexi-me mais um pouco, quando, finalmente, me ocorreu: Que tal escrever um poema?
E assim começam os irremediáveis dias para os quais só nos resta um poema...

domingo, 1 de dezembro de 2013

Rotina





Começou assim, acordei e dei de cara com o travesseiro. Quando me deparei pensando na palavra “Rotina”, aquela coisa repetida e demorada e que nunca acaba e! Se ainda fosse rápida! Rotina. Arrumar a cama, você deita e depois tem que arrumar de novo. Rotina. A arte de fazer coisas que não duram, que precisam infinitamente ser refeitas, que envolvem etapas que possuem subetapas! Se ainda fosse só colocar a roupa na máquina, mas precisa colocar no balde, separar por cor, colocar na maquina, estender, recolher, guardar, vestir (UMA ÚNICA VEZ) e... colocar no balde... Depois vem a questão da comida, fazer a lista, ir ao mercado, botar no carrinho, comprar, pagar, botar na sacola, tirar da sacola, botar no armário, tirar do armário, comer (UMA ÚNICA VEZ) são 9 ( EU DISSE NOVE) passos para uma única ação! Rotina. A arte de fazer mil coisas, para um objetivo simples, curto, rápido, quase tão rápido quanto um orgasmo. Preliminares repetem-se infinitamente para atingir algo que dura como um “UH”. Rotina, a arte de criar etapas para coisas que deveriam acontecer diretamente. Etapa 1, etapa 2, etapa 3... etapa 5500, “UH”, acabou, hora de voltar pra etapa 1, etapa 2... Devo ser mesmo a única que não vê sentido nessa quantidade absurda de etapas por cada “UH” que gritamos no mundo. Rotina. A arte de tornar chato aquilo que é legal. Tornar difícil o acesso àquilo que deveria ser fácil. Acharia legal se tivesse sido fácil chegar? Fico pensando se os salários e as contas fossem anuais e as compras no mercado decenais. Rotina: a arte de ficar pensando sobre tudo o que é rotina. Hora de voltar a dormir.

domingo, 17 de novembro de 2013

epitáfio de um sem-versos

morreu sozinho o moço esguio
emudeceu quando não podia mais dizer seus versos
a rosa, pálida, perdeu a vontade de ouvi-los
a solidão então o dominou  e ressecou o seu sorriso
não havia mais para quem escrever
não havia o que dizer
era hora de partir
o poeta iria morrer.

des-existindo


Tem dias que a gente acorda com uma vontade imensa de existir.
O grito mudo das paredes,
o silencio das bolinhas que não se enverdecem
dos feeds que não se atualizam
das verdades que insistimos em não ver
a chuva que alaga lá fora
tudo isso nos leva a uma des-existência doentil
que se infinita sobre a nossa pele.
Eis o mistério do des-existecer
algo entre existir e padecer.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Homenagem aos homens fofos

- Você é fofo assim todo dia?
- Só quando chove. Quando não chove eu acordo cedo, abro a janela e te observo dormindo, faço a comida, arrumo a casa, enrolo um cigarro e te dou bom dia! Sirvo um suco de morango, cuido da sua alergia, acaricio o seu rosto e, não importando o quanto de vento adentre pela janela, me aproximo e te faço minha.

domingo, 10 de novembro de 2013

antes tarde do que nunca




Não importa o que aconteça, mas aconteceu.
Feito dia de chuva, levado pelo vento, o amor partiu.
Partiu e não deixou feridas
Encheu meu coração de sorrisos, em vez disso.

Não importa o que aconteça, aconteceria se você tivesse impedido?
Feito tarde de primavera
brisa levando pólen,
o amor partiu.
Não deixou feridas,
abriu portas e janelas, em vez disso.
Fez florescer um jardim menos pálido.
Sem cravos.

Não importa o que aconteça, aconteceu.
Fez que vinha, mas partiu.
Deixou meu corpo esguio.
Encheu-me de esperança e alento.
Pálida e completa sorrio para o vento.

domingo, 27 de outubro de 2013

Não importa o que aconteça



Aos homens mais lindos do mundo, não cabe nunca um poema
São bons demais para deixar fôlego para versos
Aos homens mais lindos do mundo não cabe cobrar nada
Amam assim, sem nada pedir,
pois sabem: não importa o que aconteça, você saberá chegar em casa.

sábado, 28 de setembro de 2013

Quando você


Parece que há sempre uma notícia que nunca chega
o resultado que nunca se alcança
a reforma que nunca se marca
o encontro que vai "rolar"
o sms que vai chegar
Um eterno subjuntivo
Para sempre Platão
Para sempre um amor preso
Esperando quando você chegar.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Coisas que eu fazia aos 17 anos #6






Rendez-vous

Sentou-se à mesa,
a menina Lia.
Cruzou as pernas daquele corpo esguio.

Cruzou o restaurante,
o moço Milton
- havia reconhecido a languidez e o sorriso.

"Oi", disse ele, ensaiado.
"Jante comigo", disse Lia, agradável.
E deu-se o acontecido!

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Coisas que escrevia aos 17 anos #5

Qui est-ce que c’est?

É tanto querer mal querido
Tanto beijo mal dado
Tanto abraço mal-amarrado

Que espanta o bem feito
Bem arrumado
Bem bonito.

Encanta o bem dito.
Bem pronunciado,
Bem medido.

Duvida o que aparece assim, de repente.
Pode ser só um modo de ser
De ser falado, dito.
Um modo de se dar por abraçado
Nada mais.

Duvidar, até duvido.
Mas finjo que minto
E acredito.

Tantos bens num só.
Têm que ser coisa do destino.

domingo, 8 de setembro de 2013


há sempre a hora de dormir e a hora de acordar.
há sempre o dia de tentar e o de recuar.
Há sempre.
Há.
Haverá.
Mas é sempre preciso lutar.


 aí vem o vento soprando o rosto, com cheiro de areia e sal, enquanto sobe a lua no céu e você está lá, à beira do mar, na calçada, pensando no abraço que poderia te preencher por inteira, se não estivesse do outro lado do mar...

 
 

Coisas que escrevia aos 17 anos #4

pé de infância

Era belo quando só precisava de pêssegos frescos, morangos vermelhos e carambolas do pé.
Depois que o pega-pega ficou sem graça e as bonecas perderam a cor, tudo se complicou. Ai, meu deus. É difícil o amor.

Coisas que escrevia aos 17 anos #3

Tempo de Destino
Dediquei-me com afinco
A esquecer-te, meu querido.

Dedicastes-te, tu, com afinco,
A ser esquecido.

No entanto, não avisamos.
Nem ao tempo,
Nem ao destino.

Traiçoeiros, estes.
Outra vez, nos uniram!

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Coisas que escrevia aos 17 anos #2

O Gênio da Lâmpada
Esta tarde brinquei de ser criança.
Encontrei o gênio da lâmpada.
Assim mesmo, com rimas parcas.
Ao Encontrar o Gênio, ele me disse:
- Tens três pedidos.
Meus dois primeiros foram: Teu beijo e teu sorriso
- E o terceiro, senhorita?
- Sabe os outros pedidos? - Respondi, perguntando, com arrepio.
- Sei, sim, senhorita.
- Pois quero que os ponha bem aqui,
ao pé do meu ouvido...

Coisas que escrevia aos 17 anos #1

"VERDADEIRISMO
Entre toques que dizem muito,
Os olhares resolvem tudo.

O “verdadeirismo” do sentimento,
Este falta, contudo.

Querer tanto por apenas um momento
É ser pobre, humanamente.
Ser humano.
Sem escrúpulos,

Queria-me muito, sim,
E por mais que dois minutos... "

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Carta pálida para um poeta II (o déjà vu do déjà vu)

Para você, meu poeta, e para tanto amor em "desabrocho", tranformo minhas pétalas - despedaçadas - em pálidos, parcos e secretos versos.
Ainda que jamais os leia, saberei secretamente [e em silêncio] que eles representam nossos desejos, nossos caminhos e nossos beijos.
Asseguro-te, prefiro, que é nos nossos suspiros e gritos que acordarei pensando aos domingos. Olhando para a esquerda, imaginarei suas costas largas, seu corpo cansado, dormindo. Os óculos sobre o laptop, o cachecol no cabide e, na mesa, as taças com vinho tinto.
O déjà vu do déjà vu que finalmente chegou.
E afora tantos istos, de um amor mais que secreto, íntimo, guardo, aqui, apenas uma certeza: a de que, não importa quantos corpos e ou histórias nos perpassem ou o quanto o tempo e a geografia nos afaste, haverá, para nós, sempre um déjà vú no "por vir" que, no seu devir, secretamente, planeja nos dominar e nos transformar em gritados suspiros e sinceros versos.
Sem mais, me despeço.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

tatoaprendizagem

"Fico pensando que seria bom se a gente pudesse aprender pelo tato.
uma mordida na orelha e se aprende uma equação matemática,
um carinho no pescoço, advinha, aprende-se sobre literatura romântica.
Num aperto de mão já se escreveria um poema.
num abraço, um ensaio
num beijo, uma trilogia.
uma osmose por poros
aula com cheiro.
quem sabe um dia"

sábado, 10 de agosto de 2013

neurônios em nó

Cafeteira. Sacarrolha, taças. Aspirador de pó.
Status: carregando.
Som de nova mensagem: "o seu amor acaba de entrar". Chuva de bolinhas verdes. O que falar?
Não lembro se suas lentes eram transition!
Se usa lavanda ou perfume.
Roupas vermelhas?
Tira a roupa que é melhor!
pausa. ela está digitando.
Café ou suco?
Uma cerveja, bem gelada, veja só!
smile sorridente.
ele está digitando.
tenho que ir.
pausa.
também tenho.
beijo aqui.
beijo aí.
até lá!
só mais uma coisa?
pode ser bolo de xícara?
pode.
cheiro no coração.
outro então!

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

e se ...?


Lá se vão mais algumas noites de frio e solidão nessa cidade imensa
cheia de cimento e dor
cheia de fumaça e fuligem pela casa
uma festa aqui, outra acolá,
Nenhuma como a nossa,
nenhum cheiro como o teu.

Lá se vão mais alguns dias de alergia e tosse,
Algumas noites de vontade estranha, indevida e louca de te ver.
Faz tempo que, de vez em quando, me vejo acordada no meio da madrugada:
o estômago borboletando,
me encosto na parede e espero o déjà vu do déjà vu.


Lá se vão tantas noites em que os rumos nos tornaram tão distantes
nossas escolhas nunca se esforçaram em nos unir.
Mas lá se vão mais algumas noites em que acordo e me pergunto:
e se ...?

quinta-feira, 11 de julho de 2013

A visita

Em sua fábrica de sentimentos, ela age como um vulcão
Na fachada é calmaria.
O interfone toca,
Escovar os dentes, ajeitar o cabelo.
A campainha toca, é agora.
Abrir a porta, se perder.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

da manifestação à volta pra casa.

Passei o dia inteiro meio tensa, sentindo algo errado, discursos errados infiltrados na manifestação, queria que fosse pacífico como na segunda, mas não queria que virasse carnaval. Me dava um pouco de medo, tudo muito acertadinho, trajeto, concentração, parecia um bloco. Chegando lá só poderia dizer que, se gente por toda a Pres. Vargas (que é duas vezes mais larga que a Rio Branco), entre a Candelaria e Afonso Pena só dá 300 Mil, então no Bola Preta não há mais que 10 mil pessoas. Porque sem dúvida aquela multidão superava o Bola Preta, superava tudo que vi no carnaval da Bahia.

Mas bem, essa multidão estava pacífica, queríamos andar até a Prefeitura e ficar lá, em frente, esperando o prefeito se pronunciar, essa era a pauta. Não passamos sequer cinco minutos lá, enquanto chegávamos, já estávam nos esperando com bombas. Lembro que ainda sentamos por meia hora pedindo paz e "não violência" e então apagaram as luzes, os puxadores de cantos, dos microfones pediam que voltássemos, apagar as luzes é covardia. Voltamos todos no mesmo instante caminhando no caminho contrário e dizendo: "Amanhã será melhor!", "Não via ter copa".
Seguimos andando e já bem longe da prefeitura as bombas ainda estavam muito perto; "Já saimos da prefeitura, a policia está nos seguindo?" nos perguntávamos, confusos. Continuamos andando, PACIFICAMENTE, até achar saidas, era muita gente. Foi então que bombas de gas lacrimogenio começaram a atacar os fotografos em cima do viaduto, algumas atravessaram o viaduto e cairam no meio do povo. Nesse momento todo mundo estava revoltado e indignado. "Por quê? So estamos voltando pra casa, rendidos." Ainda assim, as bombas continuavam, alguns revoltados se calavam, outros gritavam, outros chorava, outros quebravam pardais e mastros de bandeiras. "Escola, não!" "biblioteca, não", "hospital, não" gritavamos unanimente e éramos ouvidos. As pessoas continuavam indignadas, mas eram pacificos, não eram vandalos. Continuamos seguindo. As bombas, que até então vinham apenas de tras, vinham pela frente e lados agora. Mas ainda pensava, estou voltando pra casa. Nesse momento meu telefone toca, era minha mãe que, em seu sexto sentido, ligou na hora certa, eu, que ia atender e dizer "mãe, estou bem" não consegui falar nada, desliguei o telefone para não preocupa-la e corri. A cavalaria, o choque e sei lá mais o quê estavam vindo na minha direção e na direção dessas pessoas que estavam desarmadas, sem mascara, sem casaco pra se proteger de balas de borracha, sem nada, apenas vozes e cartazes.
Entrei na primeira esquina correndo. Me perdi dos meus amigos, alguns amigos juntos corriam e tentavam orientar os perdidos. Fomos correndo, quando entravamos em outra rua, aparecia a policia, era hora de corrr de novo, ganhar distancia e depois andar tranquilamente, nao eramos bandidos, nao queríamos correr como se estivessemos fugindo.
Em um desses momentos de calma, andando com as mãos ao alto finalmente perguntei a um menino: "pra onde estamos indo? corri tanto e não faço ideia de onde estou!", "vamos para o largo da carioca", me respondeu. "que bom, é o caminho de casa, foi o que pensei!". De repente apareceu policia atrás de nós, à direita, à esquerda. Corri muito até chegar no Largo, corria, chorava até minha respiração asmática não aguentar, fiquei sem ar, gritei um menino que corria: "por favor, me ajuda! não consigo mais correr e to sozinha", ele me socorreu prontamente, me ajudou a correr, junto a dois amigos. chegamos na Carioca, fomos comprar uma água, foi o tempo de abrir a agua, veio policia da direita, da esquerda. Fomos então pela Rua Chile, até a Republica do Paraguai, ainda não tinha noticias dos meus amigos, consegui ligar pra minha mãe e dizer que estava indo pra casa. Passamos pelo viaduto em direção à Lapa, muitos policiais armados, MUITO ARMADOS, vindo em direção à gente. andavamos com mãos ao alto. Os meninos que estavam com medo temiam os que ficaram. "Os que ficaram vão morrer, era pra ninguem ter fugido"; "Não se combate arma de fogo com voz", retrucava. "covardia", repetiamos, chorando. Chegamos finalmente na Lapa, muitas bombas, estouros, parecia guerra, não sei contra quem, ninguem estava se manifestando ali, tentavamos ir pra casa, sem metro, sem onibus, como?
Consegui falar com meus amigos, uns tinham sido encurralados e socorridos por um motorista de onibus, que abriu as portas gratuitamente e levou todo mundo pra Central. Outros estavam na Lapa, comendo num bar, ainda sem saber que a policia ia invadir a lapa, liguei chorando pra eles: "corram pra minha casa, agora!!". Foi dificil chegar em casa, correria e medo por todos os lados. Cheguei em casa, falei com meu pai no telefone, so conseguia dizer: "foi covardia, pai, a gente não tava fazendo nada" e ele me contava "aqui em Salvador também, ninguem tava fazendo nada e a policia veio". Meus amigos finalmente chegaram, correram muito da policia e do gás, tiveram que se esconder numa casa no caminho e finalmente estavam lá a salvo. O gas lacrimogenio entrava pela janela, a gente cheirava vinagre dentro de casa, enquanto via motos, carros passando na rua, fogueira na rua, tiros, bombas. Ficamos lá até hoje de manha, com medo, demoramos horas pra acredtiar no que estava acontecendo. amigos e familiares me ligando, querendo sabaer como estavamos, nos ligando pros amigos, para saber se estavam bem. Felizmente estavam. Já era meia-noite e finalmente nos sentiamos seguros, hora de tomar banho e tentar dormir, apesar das bombas.
Devo precisar de uma semana pra refletir mais criticamente sobre isso. Hoje só consigo narrar e sentir medo. Continuo com medo hoje. Descobri a força e a truculência da polícia que ainda não conhecia; não consigo prever o que será o Brasil de amanhã. Torço que seja melhor!

domingo, 16 de junho de 2013

a decisão de ir pra rua.


Nunca fui de frequentar manifestações (a bem da verdade, acho que nunca fui a uma assim, na rua mesmo), sempre apoiei, assinei petições, divulguei. Mas, até pessoas como eu, estão se sentindo convidadas a ir à rua. Chegou a hora.
Não pego ônibus, quase nunca e, até, me dou ao luxo de, de vez em quando, pegar táxi. Mas não são apenas R$ 0,20 centavos, se fossem, não estava na causa e muita gente aqui também.
Estou na causa porque, assim como a passagem aumentou R$ 0,20 centavos, pago quase metade do meu salário num apartamento no centro do Rio de Janeiro, com 41 metros quadrados. O mesmo apartamento, antes da confirmação da vinda da copa para cá, podia ser alugado por um terço (UM TERÇO) do preço.
Com R$ 10,00 talvez fizesse uma compra no supermercado que hoje não faço com R$ 30. Está impossível pagar. Imagine então pra quem ganha um salário mínimo e talvez nem possa estar nas ruas nesse momento, pois qualquer dia de trabalho que deixe de ser pago pode ser um dia a menos de comida na mesa!
Não são R$ 0,20 centavos e nem acredito que seja apenas sobre gastos.
Estamos à beira de aprovar uma lei que vai legitimar a corrupção que, sem legitimação já tá braba no país.
Estamos à beira de garantir ao estuprador que, se ele quiser violentar uma mulher, esse filho terá de nascer e ainda receberá uma ajuda do governo. Um útero que é cada vez menos meu. Amigos gays voltando a ter medo. Desde a entrada do Feliciano, desde a “condenação” dos membros do mensalão que estamos revoltados. R$ 0,20 centavos foram estopim que nos faltava para ir às ruas, numa manifestação popular e legítima. Perceber, quando finalmente resolvemos fazer isso, que vivemos numa ditadura e que aqui é proibido ir às ruas, com vinagre na bolsa ou não, tá sendo o impulso propulsor.
Eu vou pra rua, porque quero ser livre pra me manifestar, porque quero menos corrupção. Porque quero ver meus impostos revestidos à população do meu país, porque quero pagar minhas contas no fim do mês e porque acredito que esse país, dessa vez, pode, sim, mudar!
#oGIGANTEacordou #Vemprarua

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Dia sim, dia não.

Às vezes dá uma vontade louca de voltar no tempo.
Perder aquele onibus
Assistir aquela palestra,
Aquela peça.
Não dormir depois da virada de ano.
Te olhar nos olhos depois daquele abraço
perder o voo.
perder dinheiro.
pegar um taxi e ir pra tão longe.
não ter mandado aquele email.
Ter te ligado aquele dia.
Nao ter brigado aquela vez.
Não achar que a gente tinha a vida inteira pela frente.

Às vezes dá vontade, não sei.
Às vezes não, também.
Quando sim, eu fico em versos,
Quando não, eu que sigo em frente.

sábado, 25 de maio de 2013

Estar bolinha verde ou não, eis a questão. (rascunho #2)

Experimentei passar duas semanas sem nunca estar bolinha verde, para ver como era. Pensando bem, cheguei a algumas conclusões:
Estar bolinha verde quer dizer disponível e ao mesmo tempo, menos.
Trata-se de uma disponibilidade precária e momentânea. Você pode não estar disponível daqui a pouco, por isso devo iniciar uma conversa agora.
Sem bolinha verde, você deveria estar indisponível, mas, ao contrário, é como se estivesse sempre online, a qualquer tempo, é só mandar a mensagem porque, assim que você puder, você vai ler.
Com bolinha verde as conversas necessariamente começam com um "oi" seguido de um "td bem?" e sempre devem terminar, encontrar seu fim, normalmente demonstrado por um "beijooo" ou, simplesmente, "bj".
Nada pior que recomeçar uma conversa no dia seguinte vendo que a ultima palavra trocada foi "bj", que a conversa de ontem está encerrada. É como se recomeçar uma conversa exigisse uma certeza de que você realmente tem o que falar, ou ela vai parar no "td bem e vc?".
Esperar estar bolinha verde para conversar é também ficar bolinha verde o dia inteiro, para ver se a outra bolinha se enverdece.
Sem bolinhas verdes, estamos numa conversa eterna, que vai direto ao ponto e, no lugar do oi, começa com "partiu cervejinha mais tarde?", ou "saudades", sem começo ou fim, uma conversa infinita, continuada a cada dia. Se você tiver uma unica coisa para dizer, não tem problema. Amanhã você diz mais, ou mais tarde, tanto faz.
A conversa sem bolinhas verdes é para os íntimos, é mais carinhosa e mais verdadeira. A conversa com bolinhas verdes é protocolar, fria, vale menos à pena.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Reflexão sobre bolinhas verdes (Rascunho #1)

Há qualquer coisa pior que ver uma bolinha verde ao lado do seu nome: Te ver do outro lado, exatamente na frente, e ter que dividir o olhar entre toda a roda, como se não houvesse uma pulsão de te olhar sem parar; fingindo que não há uma porção de coisas para dizer ao pé do ouvido ou uma porção de poemas a fazer com as mãos, feito carinho.
É como saudade, só que pior.
É como paixão, só que proibida!

quarta-feira, 22 de maio de 2013

conversa entre ímãs ou carta para um meteorito

Aquilo que o polo norte de um ímã diria para o seu polo sul

Não. 
Eu não me senti atraída por você.
Atração a gente sente por quem não conhece, você eu nunca tinha visto, mas conhecia desde sempre.
Atração, quando a gente sente, fica sem saber onde pôr as mãos ou como chegar perto.
Nosso primeiro olhar já foi abraço; a primeira dança, beijo.
Não.
Eu não me sinto atraída por você, porque aí eu estaria dando nome a algo que não tem forma, é impalpável e não tem cheiro.
Algo que só eu sinto e talvez só você entenda.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Conto de um Corpo

Texto escrito em 2006, quando eu tinha 16 anos. Um tanto quanto mais moralista do que se fosse escrito hoje, mas melhor do que eu mesmo imaginava que pudesse escrever nessa idade. Achei que valia à pena postar.



"Conto de Um Corpo

Parte I

Levantou-se. Pegou um baseado e acendeu. Deu uma tragada profunda. Aquilo o tranquilizava profundamente. Olhou em volta e viu aquele corpo magro, pequeno e frágil, mas não conseguia ter ideia do que havia feito ou que havia acontecido. E, de repente, já devido ao efeito da maconha, não tinha sequer noção de quem era e muito menos do nome do corpo que jazia ao seu lado. Preferiu não pensar. Dedicou-se ao seu Baseado, sem pensar muito no quarto bagunçando, no sangue na parede e no silencio do quarto.
Deu mais uma tragada profunda.
Passado algum tempo, a maconha acabou e sentiu vontade de dormir. Mas a curiosidade o irritava. Deitou-se onde estava e tentou dormir, na esperança de que a verdade aparecesse...

Enquanto isso, ali perto, Rafael recontava para si mesmo todos os fatos do sumiço de Victor. Tentava usar de sua habilidade para entender o que acontecera ao seu namorado. Tanto tempo. Não conseguia descobrir onde poderia estar.
Tinham discutido, três dias atrás.
Mas nada demais. Talvez estivesse passando por algum outro problema que não quisera contar.
Pegou um copo de uísque e tomou calmamente. Lembrou-se com carinho do corpo magro, pequeno e singelo de seu amor. Não, tinha que pensar nisso depois. Tinha que encontrá-lo, agora, sabia que havia algo de muito errado.
O telefone tocou.

- Alô. – Disse ele, com pesar na voz.
- Rafa, é a Ana. Como vão as coisas?
- Do melhor jeito possível.
- Eu tenho notícias.
- Tem?
- Sim. – Disse ela, com ternura, tentando passar um pouco de alegria.- O Fábio perguntou em vários lugares e parece que ele passou de moto por uns postos, numa estrada secundária perto daqui. Tudo indica que tenha ido até a cidadezinha à qual dá a estrada.
- Ai... Santo Fábio! – Disse ele, quase eufórico. – Podemos ir até lá?
- Sim. – Respondeu Ana com o tom tão carinhoso de velha amiga da família, quase irmã. – Passo aí com o Fábio em trinta minutos e podemos ir procurá-lo, ok?
- Sim. Me arrumarei para isso. Beijos, amiga.
- Beijos para você também. E tenta ficar o mais calmo possível.
- Tentarei...

Parte II
Seguiram pela estrada esburacada. Já eram três horas da tarde e logo começaria a escurecer e, numa estrada tão vazia e mal iluminada, seria difícil continuar.
Rafael dirigia sério e preocupado.
Queria realmente saber o que aconteceu. Seus pressentimentos não eram nada bons. Perguntaram a uns e outros e realmente concluíram que ele devia ter ido até a cidadezinha, mas que faria lá?
Não fazia sentido.

No quarto, ele acordou outra vez. E o corpo ainda estava lá. Já havia se passado um dia inteiro e começava a escurecer, outra vez. Não sabia o que tinha feito. Lembrava-se daquele corpo, andando pelas ruas da cidade. Lembrava-se também de algum caso de esquizofrenia, ou loucura. Lembrava-se de uma briga sua, com alguém que amava. Não, não conseguia organizar as ideias. Quem era aquele corpo que havia fugido da cidade para cá por loucura, por achar está sendo perseguido por um fantasma e como acabara morto, ali, ao seu lado? Não conseguia explicar, e olhou mais uma vez em volta. Percebeu que, por algum motivo, conhecia mais o corpo do que aquele quarto. Sentiu que precisava de alguma coisa, mas não sabia onde encontrar. Encontrou alguns comprimidos de sonífero que pareciam ter se materializado ali, naquela hora, pois jurava não tê-los visto antes, mas estava tão confuso que não era capaz de entender nada além do pouco que tinha em mente. Pegou uns três comprimidos e tomou-os à seco pois não conseguia se imaginar levantando dali para procurar nada. Não se sentia e, na verdade, não tinha muita ideia do que poderia ter acontecido...
Sabia que também não era dali. Na verdade, nem sabia onde estava. Como poderia saber que não pertencia ao lugar? Lembrou-se de momentos felizes, com amigos, muita cerveja e maconha, como precisava de um baseado agora...
Sentiu aquela felicidade atingir fundo o seu peito e agir como se não pertencesse mais a ele. Como isso seria possível? Não fazia sentido. Lembrava-se agora também de sua infância, e agora parecia que havia sido nessas terras. Sentiu-se mais familiarizado com o lugar, embora não conhecesse o quarto. Viu-se brincando no frio de uma manhã de inverno. E achando seus amigos muito bonitos de moletons. Lembrou-se de sua mãe o repreendendo, e seu pai o castigando por chorar e por andar de mãos dadas com um menino... Sentiu seus olhos arderem, lágrimas rolarem. E, de repente, lembrou-se da historia do corpo à sua frente. Lembrou-se de que ele viu um amigo imaginário que o garantiu que, ao chegar aqui, encontraria seu namorado com outro. Lembrou-se que ele se sentiu louco brigou com o namorado e seguiu de moto para cá. Lembrou-se que o corpo havia também chegado àquele quarto, fumado maconha, tomado uísque e, por fim, em meio à sua loucura e após uma séria discussão com aquela alma imaginária, havia encontrado uma arma. Só não entendeu como ele tinha aparecido na história... Não sabia, mas lembrou-se do tiro no peito e este doeu como se fosse nele. Sentiu vontade de um pouco mais de comprimidos e, quando os foi pegar, sentiu que os outros começavam a fazer efeito, enxergou mal, viu as coisas escurecerem e, de repente, tudo apagou.

Parte III

Anoiteceu e eles tiveram que parar um pouco. Rafael queria chegar logo à cidadezinha, mas Ana o convenceu de que não adiantaria muito já que, sendo a cidade pequena, não conseguiriam nenhuma informação àquela hora. Pararam num hotel de beira de estrada e combinaram de partir assim que amanhecesse e assim fizeram.
Chegaram, por fim, à cidadezinha. E logo entraram num barzinho que já tinha seus feirantes e vaqueiros passando para tomar uma tragada antes da feira.
- Bom dia. – Disse Rafael, ao lado de Ana e tentando parecer calmo.
- Dia, moço. – Disse o homem, que atendia no balcão.
- O senhor viu esse homem por aqui? – Disse ele, mostrando uma foto de Victor.
- Vi sim, senhor. – Disse o homem. – Ele alugou uma casa a uma légua daqui e passou perguntando como chegar lá, tem uns três dias. Mas não apareceu mais por aqui, não senhor.
- Obrigado. – Disse Rafael. Homem alto e charmoso que era. Esbanjando beleza e originalidade com seus 28 anos tão bem traçados. Agora estava perto, encontraria seu grande amor embora, em seu íntimo, soubesse que não teria boas notícias. Sentiu-se um pouco nervoso, sentou-se um pouco e pediu um café. Ana percebeu que ele não estava bem e encarregou-se de pegar explicações de como chegar à casa e decidiu que ela dirigiria até lá.
E assim, fizeram.
Ao chegar às proximidades da pequena, isolada e peculiar casa, sentiram o cheiro forte de podridão. E Rafael sentiu seu coração bater disparado. Ana viu seus próprios olhos enxerem-se de lágrimas ao imaginar o que poderia ter acontecido ao seu amigo de tantos anos. Pediu a Fábio, que estava no banco da frente, ao seu lado, para abrir o portão para que pudesse entrar.
Logo que entraram puderam avistar em outro canto a moto de Victor largada no lado da casa. O cheiro era muito forte. Bateram na porta, na esperança de serem atendidos.

Ele acordou escutando a porta bater. Tentou levantar-se, mas era incapaz de sentir o próprio corpo não sabia bem por quê. Faltava-lhe voz, também. Esperou que arrombassem a porta porque finalmente, então, saberia a verdade. Ouviu uma voz “Victor abra essa porta, sou eu, amor!” Meu Deus. Era o Rafael que o havia encontrado. Como ele sabia quem batia à porta? Que bom, estaria agora protegido pelo homem de sua vida. Por fim viu a porta arrombar-se e sorriu para que Rafael corresse para ele. Mas Rafael não o viu. Correu para o corpo magro no chão. E disse, chorando.
- Victor, meu amor. Como pode suicidar-se?
Suicídio, como assim? Ele estava ali, não era ele naquele corpo! Conseguiu levantar e percebeu que estava invisível. De repente, visualizou o rosto do corpo. Meu Deus. Era ele que estava ali, MORTO! Como podia, se sentia-se quase vivo? Lembrou-se então que ele tinha dado o tiro. E, ao mesmo tempo tinha sido um suicídio. Viu a arma nas mãos do corpo. Concluiu com pesar que estava morto. E, pelo seu namorado e pelo casal de amigos que tanto amava, nada podia fazer. Queria dizer-lhes que estava bem, que amava Rafael, que não queria ter morrido sem dizer-lhe isso, que não queria esquecê-lo. Não queria ter acreditado naquela alma maluca, que fez voltar à sua terra de origem. Agora entendia porque conhecia mais o corpo que a casa embora esta tivesse sido sua, em outros tempos, com outras formas. Amava a todos aqueles que choravam sua morte e, tinha certeza, as drogas tinham grande culpa no acontecido. Mas não adiantava mais nada. Estava morto, isso era fato. E, contra fatos, não há argumentos...".


terça-feira, 7 de maio de 2013

eu x amídalas

Sei que pessoas e Amídalas costumam nascer juntas, mas, no meu caso, teimo em prensar que algo de estranho aconteceu.
Alguém de nós nasceu antes, temos signos diferentes, o santo não bateu. Vivemos num eterno cabo de força, eu tentando dominá-las, elas, bem "leoninas" (principalmente a direita) se mostrando indomináveis.
Me sinto meio que o estado de Israel, enquanto elas são o estado da Palestina.
Eu de cá bombardiando de remédio, elas, de lá da minha garganta, lembrando que parecem pequenas, parecem não servir para nada, parecem frágeis, mas são capazes de destruir minha felicidade.
Triste fim...

quarta-feira, 24 de abril de 2013

A Borboleta

Hoje eu acordei com uma borboleta no estômago
Ela já mora aqui faz uns seis anos
Tem dia que dorme
às vezes ano.

De vez em quando ela acorda
Batendo as asas feito criança,
Querendo voar não sei pra onde
Tem dia que até parece que voa
voo de ida, sempre com volta.

Cada vez que volta,
volta grande
maior que antes.

Tanto bater de asas, incomôdo, não sei pra quê;
se o destino é sabido
bater, bater,
borboletar (sem saída)
até morrer.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

em tempo!



O tempo, sim, o tempo, resolve tudo.
Bem verdade que ele demora,
chega sempre atrasado
um Godot que chega
mas só quando já se está desesperançado.

O tempo, meu bem, resolve tudo.
Até aquilo que não parece ter sentido,
a dor do desejo infindo,
proibido.

O ciume mal colocado
e também, o desejo reprimido.

Confia tua dor ao tempo
o resto
é resto
finito
do infinito.

terça-feira, 16 de abril de 2013

Solilóquio do eu para o espelho

Eis-me aqui, parada, diante do espelho.
Os cabelos bagunçados, eu analisando os meus próprios traços.
Aos 23, as rugas (que virão!) ainda não se fazem aparecer, ainda assim, já é possível ver o caminho que farão para chegar.
Bem ali, pertinho das olheiras, cada vez mais fundas, seja por conta da rinite, ou pelas noites mal dormidas resultado de muito trabalho e estudo, ou pelas dores de amor, que incomodam o meu sono, feitos vermes nas entranhas, feito borboletas no estômago.
Eis-me aqui, frente ao espelho e ao pior de tudo, frente a minha própria imagem.
Feia, entristecida, insatisfatóriamente pequena, pouco sedutora, pouco instigante.
A musica ao fundo, num francês africano diz: "je serais la plus belle, pour toi mon amour". "Mon amour", quem será? Existe? chegará qualquer dia desses, me colocará no colo e enxugará minhas lágrimas?
Tanto faz.
O celular toca.
Não.
Não é uma ligação importante.
Trata-se do despertador, lembrando que a vida está viva lá fora, apesar de gélida aqui dentro.
Lembrando que é hora de ir.

sábado, 23 de março de 2013

A carta cuspida ou... o prato frio!

Que a saudade bata e você volte um dia, meu amor,
arrependido.
Pedindo de volta a vida doce que lhes foi oferecida,
o rabo entre as pernas e o choro contido, o coração derretido.

Mas, antes disso, quero que demore muito de ser visto
Que encontre alguém à sua altura
e que esse alguém meta:
Lágrimas de vidro em seus olhos fitos
beijos frios em seus lábios,
gozos falsos em seus ouvidos.

Para que quando você volte,
finalmente tenha entendido,
que até os persistentes precisam ser vistos.

quinta-feira, 21 de março de 2013

carta pálida para um poeta

acho que nem me lembro do cheiro-cravo deste poeta insosso incrivelmente louco, genial e simples.
Encontrei-o, em algum momento, cantando uma música sobre o assassinato do super-man, enquanto fazia poemas num bloquinho de notas feio e displiscente.
Me pedia que analisasse seus poemas, como se eu [ uma rosa boba e pálida] tivesse qualquer poder de critica, enquanto, entre um poema e outro, me passava, num papel do bloquinho, seu telefone e dizia: "me liga".
Ele nem se lembra.
Como bom poeta que é, fez de tudo alguns versos, fumou um baseado, tomou um drink e arranjou outra caneta.
Ainda assim, tanto faz, sempre que bebo uma cerveja: me encosto no muro e fico esperando um dèjá vu, que jamais virá.
E, ainda assim, sabendo que não virá, exatamente por saber que não virá, construo outros mundos, vivo outros cheiros e sonho outros sonhos. Que me contentam, me alimentam e me empolgam. Mesmo que eu jamais pare de olhar o meu celular, esperando um torpedo bobo pronpondo finais absurdos ao final da novela, um "boa noite", ou, simplesmente, uma questão de trabalho para ser resolvida às duas da manhã.
Ainda assim, essa saudade insaciável guardarei entre as minhas pétalas e suspiros, calada, prefiro.
Pois prefiro que jamais saiba, meu querido poeta, que essa carta é pra você, desfazendo, por isso, tudo o que disse, re-dizendo outra coisa, findando esse desejo infindo. E o faço pelo bem de minhas pétalas e pelo frescor de vossos versos.
E, sem mais, me despeço. 

quarta-feira, 20 de março de 2013

Carta para um passarinho

Como já diz o nome do seu ninho, é leve e manso. Um passarinho, tão belo, de aparência frágil, ideias fortes. Voa tão livremente, que me encanta.
Fala calmamente, toca tão doce e intensamente, sorri tão encantadoramente.
Faz com que eu queira ganhar asas, voar junto, sem tempo de pousar, sem gaiolas para voltar.
Só me ensina a voar, belo pássaro, que, de minha parte, me comprometo, a jamais tentar te encontrar uma gaiola pra pousar.

domingo, 17 de março de 2013

carta do depois

É você sair, as luzes se apagam, os suspiros se calam.
O calor vira frio, triste e vazio.
A cama, ainda com seus cheiro e suor impregnados, endurece, gélida e desconfortável.
Abre-se então, entre mim e o mundo, um abismo intransponível, movido por uma saudade pesada, perdida, indevida e sem solução.
Pesam os olhos, ardem as pálpebras.
Vontade de parar o tempo, de que três meses nunca passem, de que o teu sorriso nunca se afaste.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Feliz dia de luta!


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Agradeço a todos os homens de verdade, que nos parabenizam pelo nosso dia, vocês são poucos ainda, mas essenciais em nossas vidas. E, para as mulheres como eu, sinto a necessidade de dizer algumas palavras:

Hoje é dia de celebrar as batalhas vencidas, mas, principalmente, é dia de lembrar que a guerra está longe de ser vencida. Não falo pelos velhos, que já tem um pensamento formado, que já não vão mudar, digo pelos jovens, que insistem em nos machucar a cada dia. É contra eles que temos que lutar, para os jovens que ainda estão por vir, tenham uma nova mente sobre as mulheres.

Hoje é dia de lembrar que homens jovens, entre 20 e 40 anos, ainda estupram suas namoradas, amantes e mulheres, dentro de casa, ainda as violentam e que isso acontece independente de classe ou nível de instrução. Dia de lembrar que eles ainda se acham no direito de estuprar uma mulher com roupas curtas e que sua pena na cadeia será atenuada a depender das nossas vestimentas. Que eles ainda se acham no direito de tentar nos agarrar em festas e nas ruas.

Hoje é dia de lembrar que ainda ganhamos menos, que ainda pagamos ingressos mais baratos nas festas, que ainda levamos jornada tripla de mãe, dona de casa e profissional, contra uma jornada no máximo dupla dos maridos. É dia de lembrar que ainda nos olham atravessado quando ocupamos cargos de chefia, perguntam “onde está o homem?” como se não fôssemos capazes de ocupar aquela função.

Hoje é dia de lembrar que ainda somos tachadas de “vadias”, se gostamos de sexo, se não somos pudicas, se escolhemos os homens com quem queremos nos deitar. Que, sobre nós, ainda paira o medo de ficar “mal faladas”, o medo de ir pra cama na primeira noite, o medo de ser mais experiente que o homem, e o medo dizer que, simplesmente, não está afim hoje.

E por isso tudo é que agradeço a todas as flores, e frases de parabens mas lembro que precisamos nos unir ainda mais, para vencer de vez essa difícil guerra!
E que façamos isso sem endurecer jamais! Sem querer se sobrepor aos homens, apenas procurando o lugar da igualdade e da fraternidade entre os gêneros.


Feliz dia internacional da Mulher!

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

do proibido e do desejo

Tanta saudade, estranha,
do que nem teve.
Falta atroz registrada
em teu cheiro,
no lençol,
no travesseiro,
na foto do desktop,
na resistência do chuveiro
tristeza e devaneio.

Tanta saudade, estranha,
descabida de proibido desejo,
que trocaria um mundo inteiro
por um beijo.