domingo, 31 de outubro de 2010

Outro conto bobo da Rosa Pálida

De tão pálida que era a rosa.
Era boba, inocente.
E, para ela, só havia um jeito:
ela só queria vê-lo.
por mais difícil que parecesse.
ela só queria senti-lo, por mais estranho que isso fosse.
criou um desejo oculto, platonico, absoluto.
e, portanto, irreal, cansado, desnudo.
Nada além disso, ela só queria vê-lo.
sentir o cheiro, um abraço por trás.
talvez um beijo.
de mais a mais, já não contava que pudesse haver nada além de "oi".
sabia que era impossivel.
além do mais
não tinha qualquer chance.
mas o sentimento era tão distante,
tão conformado
tão bobo
tão ingenuo.
que, apesar de tudo, apesar de tudo dizer para ela desistir,
ela insistiu que queria vê-lo.
nem que fosse de longe.
nem que fosse secreto.
Ela só queria vê-lo.
E não conaseguiu.
sem rimas,
sem reticências.
sem medo.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

assistindo tropa de elite 2

Para quem mora na cidade do Rio de Janeiro, sem dúvida, assistir ao filme TROPA DE ELITE 2 tem um gosto especial quase inexplicável, sobretudo bastante amargo.
O primeiro filme, embora também falasse dos dias de hoje, atingia muito mais diretamente o público que vive nas favelas do rio que sofre com o tráfico.
No segundo contudo, vemos aquilo que está nas ruas do rio, no ar da cidade.
É assustador como parece que, em vez de atores, foram selecionados policiais de verdade, pois os atores que os fazem são muito iguais, em postura, nas correntes de ouro, no jeito de falar e, claro, na corrupção.
Alías, é isso que me assusta no filme, a coisa é tão próxima que, mais do que um filme, a sensação é de estar vendo um noticiário na tv, ou um caso contado pelo vizinho, num encontro de elevador.
Essa proximidade em dado momento causa tanto incomodo que chega a afastar, que dificulta a reflexão. Aliás, no fundo, convence de uma unica opinião, bastante niilista e panfletária: a de que, pra resolver os problemas do rio, só demolindo a cidade e construindo outra.
Não bastasse a a semelhança histórica, as referências a Freixo, à milícia. O cenário é construido minuciosamente pensando nisso. A logomarca do canal de TV parece a logo da Globo, assim como a do jornal impresso parece a do jornal MEIA HORA e assim como o programa mira geral é identico ao BALANÇO GERAL.
fora isso, há também as logomarcas de vans, lanchonetes e farmacias, que são idênticas.
Essa relação de semelhança nos põe tão para "dentro" da historia, que fica difícil se distanciar, não acreditar piamente em tudo aquilo.
Não bastasse isso, num tom quase arrependido, no inicio do filme, vemos a frase: por mais que pareça com a realidade, trata-se de uma ficção.
Talvez, se isso fosse feito no filme, sem a frase no inicio, ela existisse mais do que da forma que foi feita.
fora isso, trata-se de uma boa história. E, talvez, com o sucesso das UPPs, daqui a 20 anos seja muito mais proveitoso assisti-lo.
Acredito que, nesse caso, um distanciamento minimo é preciso.

sábado, 16 de outubro de 2010

Um breve análise sobre dois verbos...

há uma grande diferença entre viver e viver.
muitos não entendem, porque as palavras parecem parecidas, mas há.
uma das grandes diferenças é a procedência do verbo.
um vem do verbo sonhar, outro, do verbo viver.
o primeiro normalmente é povoado por substantivos terminados em o, como beijo, sorriso, carinho.
o outro normalmente tem substantivos terminados em e, como saudade.
mesmo que venha de uma saudade de algo que nunca aconteceu.
mas tanto viver como viver têm seus lados bons e, no fundo se completam.
nem tudo pode ser vivido segundo o primeiro verbo, viver.
é preciso misturar os dois, se se quiser continuar vivo.
há também um agravante chamado destino.
que impede a pressa que chegar antes da hora no lugar pretendido.
O destino é muito amigo do verbo: o viver. - Normalmente o ajuda a fazer as coisas no tempo certo, sem pesar.
para quem está sempre no viver, é difícil, complexo. Porque não se visualiza o outro verbo, o viver.
de todo modo, é preciso usar e abusar desse verbo: viver.
sem medo de que um outro muito diferente o atrapalhe.
às vezes demora, mas é com o gerúndio que se alcança.
até o impossível.
sem mais delongas.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

suspiros em uma biblioteca

A menina estava nervosa.
Embora estivesse quase se formando, vinha de uma universidade pequena, onde se dizia que livro quer e o bibliotecario ia lá, pegava e entregava, sem problemas.
Mas, trocando de faculdade e de cidade, trocaram-se também as dimensões das relações, dos modos de se vestir e pensar e também, claro, dos modos de se pegar um livro numa biblioteca.
O fato é que lá estava ela, na biblioteca. Deu a localização do livro ao bibliotecario e ele disse, docemente: pode ir lá, segundo andar.
Ao subir, deparou-se com estantes tão grandes que pareciam infinitas. Corredores estreitos, cheios de livros. Haviam placas com numeros. E o codigo de localização anotado num post-it em sua mão, era algo incompreensível.
Decidiu então que os tres primeiros numeros daquela localização eram os tres numeros indicados na placa e pronto! E se não fosse? Paciencia, ia passar a ser e ela ia encontrar o livro.
Depois de quase 10 min andando, finalmente achou a estante dos livros de 700 a 1000.
agora precisava achar o 792. Encontrou entao duas estantes com livros 792! oh, meu deus!
Deve ser a hora de usar os resto do codigo localizador, pensou.
E assim fez. E começou a procurar. Parecia ter finalmente entendido a mecanica da coisa e começou a suspirar tranquilamente, pesquisando como se ja tivesse feito isso infinitas vezes.

Contudo, depois que olhou livro por livro cinco vezes e, justo aquele parecia não estar lá começou a ficar novamente nervosa.
Não! Precisava nao ser tao ignorante e encontrar um livro na estante. E decidiu procurar mais um pouquinho.
Ao fim de meia hora, desistiu!
"chega, vou até o moço, vou pedir ajuda, paciencia", disse ela. E suspirou profundamente, fazendo o caminho de volta.
Ao chegar lá no balcão, sofrega e envergonhada, contou que não havia encontrado o livro. A mulher que atendia ao lado disse então:
- Vê se não está aqui embaixo! , apontando uma estante atrás de si.
Foi então que ele procurou em uma estante pequena, atrás dele, onde tinham alguns livros que ela deduziu serem os livros recém-devolvidos.
E finalmente, ele encontrou o tal livro.
A menina suspirou novamente feliz. "Não sou tão anta assim", pensou consigo mesma e sorriu, indo embora sem que o balconista nada entendesse.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

SUSPIRO

                                       mon cri muet et mon silence


Teus olhos; lágrimas.
Teu peito; desespero.
Teu toque gelado,
Teu beijo quente.
Meu rosto; medo.
Meu beijo; Saudade.
Tua distância mínima.
Nosso desejo; máximo.

Cada toque disfarçado,
Cada sorriso tímido,
Distraído e sem graça,
Valia talvez um beijo,
Mais que isso:
Uma lágrima.

domingo, 5 de setembro de 2010

Conto Bobo de Rosa Pálida

O inexorável dói nas entranhas daquela que se recusa a assumir um mal secreto.
Cheio de lágrimas e reticências, duvidas algozes que destroem o construído, sem perceber, distraído.
No fundo a esperança pálida ainda existe. Sonhando ser acordada por um toque que arrepie, aproxime e embranqueça ainda mais a rosa agora pálida e vestida.
Contudo a esperança não passa de um sentimento parco. Que não se fundamenta, não se teoriza, não se realiza.
Há apenas a memória de um cheiro estridente, alguns toques e um desejo outrora persistente.
Uma duvida, dada por uma respiração que se deu, a mais ou a menos.
Mas a Rosa, que sonha ser desnudada, não fará nada.
Ainda que houvesse provas, possivelmente, não faria nada.
Porque o mundo é pequeno, a vida é curta.
A Rosa é pálida...

Poema da Aurora

7 horas da manhã que parecem 6.
É frio, começa tarde o dia.
sons de pássaros, luz pela janela que, mesmo fechada, permite per-passar o frio.
uma esperança que novos dias virão a domina.
seria a felicidade por vir?
não. Seria a felicidade que já está aqui,
em carne viva.
Compreendia.