quinta-feira, 13 de março de 2014

uma aporia farmacêutica

Atenção:  este texto é indicado para casos extremos de solidão! 
Não há contra-indicação.


Às vezes me cansam dessas rotinas corridas que terminam em “ax”. De remédios terminados em “ax”. Que tentam suprir uma falta de alongamento e sanar as dores da existência. “Solidão não cura com aspirina”, já dizia o poeta. Acrescentaria a isso que não cura com dorflex, nem com qualquer relaxante muscular terminado em “ax”. É preciso também dizer que não se resolve no “an”, remédios terminados em “an” prometem um sono que não podem dar. Porque prometem, mas apagam. Prometem sono. Prometem. É uma dormida que te tira vida. Sonhar também é vida. Saudade de sonhar. Saudade de pensar no pesadelo do dia anterior. Não se tem mais pesadelos do dia anterior pra contar. Tudo termina numa caixinha com faixa vermelha, às vezes amarela, às vezes preta. Sem água. Saudade da água. Porque fico pensando que agora é tudo controlado. Uma noite longa ou curta? Com ou sem sonhos? Uma manhã com ou sem pique? E a dor no ombro? Para dor no ombro: relax! Relax é o único remédio terminado em “ax” pouco usado para dores no ombro. Comprimidos... Aqui e acolá. Repetem-se. Problema do fígado. É preciso ter controle sobre o que se vive. É preciso decidir sobre o que se sente. O sentimento é opcional, a dor é uma escolha. É preciso decidir. É preciso escolher. Escolha. E o controle será feito enquanto permitir este organismo, vivo? Ou quase isso.