quinta-feira, 13 de novembro de 2014

diálogo da saudade virtual ou tratado sobre a angustia parte I

- Me ligou?
- liguei. É que... tinha um comichão me corroendo e tive pesadelos e queria saber se ainda estava aí, mas, também, me perdi na minha lógica e fui vendo que você era tão intenso na minha imaginação que não conseguia mais fugir. Fiquei na angustia de não saber o que dizer e não julgar o que senti. Lembrei daquele sonho bucólico que sonhamos juntos e também das borboletas que depositou no meu estomago. Elas ainda estão aqui. A verdade é que você ainda falta em mim. E ao mesmo tempo é tanta falta que já não sei mais o que falta, nem a mim nem a ti. Já não diferencio o que é suor, e o que é lágrima. Mas vejo que, em tudo, tu me falta. No piso vazio e triste, na parede e no quadro que queria te mostrar. Tu me falta no dia mais prazeroso e principalmente no mais febril. Já não sei o que dizer e, não sabendo, te liguei. Mas é estranho você ter visto, porque essa dor toda se passou enquanto te faltei. E durou exatamente até a hora que disquei. No momento exato em que liguei, eu desisti. Tive medo de te ouvir.  E, antes mesmo que chamasse mais que uma vez, eu simplesmente desliguei. Achei que nem ia ver, que nem me fosse ouvir. Tive medo de perceber que sua voz não era  mesma do meu sonho, que seu corpo não bem satisfatorio ao desejo. Tive medo de o seu beijo ter gosto seco. Tive medo, do frio que daria friccionar-me com seus pêlos. Desejo. Tive medo. E, medrosa, desliguei. Era pra você não ver. Mas você viu e agora não sei o que dizer. A não ser que...
- ... que teve medo. O medo é o melhor e o pior amigo do desejo. Andam juntos sempre e, por isso, sem mais, te respondo: te desejo.

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

PÁLIDA LÁPIDE ou A ROSA APRESSADA



Tenho medo de perder.
E, por medo de perder, tive sempre.medo de esperar.
E, tendo medo de esperar, pelo medo de, depois de esperar, ver tudo aquilo.que pensei derreter entre os dedos,desenvolvi um medo absurdo de não fazer nada.
Desse medo absurdo de não fazer nada, decidi cortar as pausas. Tudo correu tão rápido que sobrou um tempo enorme pra viver.
Foi então que percebi que cortando as pausas eu cortei tudo o que ela continha, perdi o riso contido na pausa e também o sono. E, com a perda do sono perdi também o que o sono continha: o sonho.
E sem sonhar, fiquei seca e, estando seca, despetalei.
Despetalada, mesmo com tempo em sobra, terminei aí.

domingo, 28 de setembro de 2014

Tratado sobre TER ou felicidade devia ser vendida no supermercado


Esse estranho direito de ser que nos é dado. Viver deveria ser um pressuposto, mas não é.

Se antes estar vivo é principio básico hoje chega a ser uma suposição improvável. Enquanto se está vivendo.

Isto porque aquilo que se chama paz, descanso, dormir sem culpa perderam o lugar. Eu acordo culpada quase toda a manhã, quem nunca? Dormir não cabe no viver e portanto é meio que preciso não dormir para viver. E quem não dorme, tá vivo?

Aí vem a história do dinheiro. Eu não sei o que é mais ditador, a ditadura da divida ou a da economia. A verdade é que, gastando antes pra pagar depois, ou pagando antes pra ter depois, você tá sempre sem ter e eu não sei mais se a felicidade está na ausência ou na presença do ter. O que é ter? Não importa, é mais importante do que ser?

Aí vêm os padrões de saúde, beleza e felicidade. Pra quê dormir se você pode medicar? Medicar o sono, a vontade, o desejo, a fome, de noite você toma um remédio pra dormir, de manhã um pra acordar. Tudo ok, só não legaliza a maconha, o resto pode. E a ritalina pra concentrar? É tipo essencial. Porque é muita coisa pra fazer, muito mundo pra chamar e você chora pencas, pitangas, amoras e jabuticabas, ok, só não deixa ninguém ver, faz culpa ser fraco, ser fraco é para os fracos e num mundo em que pra ser mulher e competir você tem que parar de menstruar e de ter filhos você não vai se permitir chorar, vai?

Essa vida estranha que nos persegue. Não sei mais se é pior viver sem estar vivo ou estar vivo e abrir mão do tal modus vivendi. O padrão de beleza é tão exclusivo que me permito perguntar: E se você nascer feia? O que diabos fazer? Porque tipo, às vezes não é so ir a academia malhar como uma condenada é ter que deixar de ser você, pra ser. Pra ser ou pra ter? That's the question! Vamos debater! Debater? Só pelo facebook e nem cria evento, pelos coments mesmo.

E aí vem a felicidade. Esse negócio de ter, ter, ter. Afinal de contas se tudo é mesmo comprado por que só esse diabo de felicidade não se pode ter? Vão dizer que não se alcança, você já tem que ser feliz enquanto vive. ok. mas e então viver é ser feliz mesmo se abstraindo de tudo que dá prazer? Dormir é pecado, comer é pecado, amar é pecado, ser mulher é pecado, não ser branco é pecado. Alisar o cabelo é pecado, ter cabelo liso, também. Já que tudo é comprado, talvez seja melhor logo, vender a tal felicidade no supermercado! Ou não!

domingo, 21 de setembro de 2014

sem destino

E afinal, que rebuliço é esse, menina? que te deixa distante daquilo que tu mesmo deverias encostar?
Essa angustia sobre o vazio tempo em que te encontras, sabe? Esse estranho desejo de ser o que não é,de botar o carro na frente dos bois e ainda andar, apesar das pesadas pernas.
Corre, mas olhando os lados e atrás, é assim que se caminha, não pisa nem cospe.
Mas imagina só, chegar lá dessa maneira? Não iriam te perguntar, quem você pensa que é? o Que tanto deseja?
Veja só! Nem ama, nem é amada e ainda peleja. Peleja pelo quê, criatura? Se sem amor,não vais a lugar algum. Será mesmo que um dia aprenderás a chegar com calma e em grupo? Não. Certamente não será possível. Uma vez que uma coisa é existir, outra é ser.
E tu, em tua maldade doida e desvairada, só pode mesmo existir. Ser requer outras coisas, sabe? Outras coisas que sei lá, viu? Não dá pra saber não...
É só rir e acabou. Desiste, cansa. Deixa em paz quem nunca te desejou, segue vai, segue e sempre!!

quinta-feira, 31 de julho de 2014

ciclo vicioso

O problema não é você existir, sabe? É aquela vontade estranha de te ligar às três horas da manhã e não dormir falando besteira até amanhecer. Um comichão corroendo o estômago, borboletando as entranhas incomodando a existência. E, no fundo, não é tão mal essa vontade louca de te ligar sabe? Ela não passa disso, é mais uma vontade de ouvir sua voz e de rir um pouco, o problema é que a vontade vem quando você pode e também quando você não pode e, eu, na dor doida de te querer, prefiro calar a dizer. Aí, não ligo, perco o riso e a noite, do mesmo jeito. A verdade é que eu sei; mais dia menos dia você vai ligar, e vou dormir feliz como se fosse a primeira vez. O problema todo tá nessa vontade quando surge em mim, porque vem junto com ela o medo de você não atender. E é mais que medo, é meio que eu nunca sei se você realmente quer e isso me enlouquece, me faz estremecer. Vai tudo me encolhendo até me sucumbir. Ai acontece uma coisa boa as 10h da manhã e aquela vontade louca de estar com você estala sobre a coluna de novo, de repente me ocorre o som do teu sorriso e o medo; melhor não ligar pode ser que não vá me atender...

quinta-feira, 17 de julho de 2014

diálogo dos desesperados...

aquela agonia mexendo no celular e... Ele toca!
É ele... eu devia esperar uns três segundos e...
Oi.
Silêncio
fala, tudo bem?
Tudo eu to ligando porque... Você me ligou?
Liguei, mas era pra dizer algo que não lembro mais e também não quero mais dizer e também já não tem mais importância e!
Eu também não sei. Fiquei pensando em te ligar só porque tinha me ligado. Mas a verdade é que se fosse urgente você teria me re-ligado. E também queria saber se resolveu tudo e também fiquei por horas mexendo o dedo pelo touch entre os nomes da agenda que começavam com a sua letra e. também! É que. percebi que não lembrava se você atendia dizendo "alô" ou "oi".
Silêncio daqueles que pega todo o quarto.
E então eu decidi ligar
pegando o ar de todo o planeta numa unica inspiração.
Foi bom porque eu não lembrava o que dizer então não tinha porque ligar e então abria e fechava o chat pra ver se você tava online e se postava alguma coisa que pudesse virar assunto pra nós dois. Então não achei, então!
Silêncio


silêncio que continua
É que... to indo praquele bar da esquina encontrar um pessoal...
Ah, desculpa to aqui tomando o seu tempo
não só ia dizer que...
que.
que?
adoraria que também fosse e!
silêncio


.
-
-
que horas?
19h
te vejo lá.
beijos

quinta-feira, 10 de julho de 2014

para as palavras que se foram

As palavras me foram roubadas. Vejo-as ali! Ali! Agora ali! Depois lá atrás e agora láaaa na frente! Droga! Perdi de novo! Lá se foi um quase texto que morreu antes de me emudecer.
Vomitei-o para dentro e agora me corrôo as entranhas, feito amor não revelado.
Onde estão os poemas perfeitos que não me saltam à boca?
Talvez a causa seja o excesso, afinal, não se escreve quando se vive.
E não se vive apenas de excessos.
É o que digo, meus versos:
Se não te roubaram,
Para me livrar da breguisse,
Perderam-te.

terça-feira, 22 de abril de 2014

3 letras

T
Tudo te deixa tensa
A porcaria da wi-fi que ta lenta, do telefone que nao atende e todas as porcarias irritantes que insistem em ocorrer.
Nao é só uma questão de hormônios, falo de tudo o que te mexe, uma declaração de amor pela manhã, uma mensagem indevida as 2h da madrugada, um sono desmedido, uma falta de tempo pra preguiça um excesso de coisas pra fazer e pensar.
A porcaria da tensão que insiste em te irritar.
P
Essa mania do pré.
Por que não sofrer as coisas quando elas acontecem? Agora você tem que sofrer pelo simples fato de que vai acontecer? Já não é sofrível o bastante que aconteça? Tem que ter o pré acontecer?
Nada deveria previamente acontecer. Tudo a seu tempo.
M
Odeio coisas começadas em m.
Costumam ser ruins
Marrom
Maltrato
Mentira
Malfeito
Medo
Mediocridade
M.

E fim.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Lápide

Acho uma pena não ter ido
Uma pena,
Pena não ter sido
Não
Ter sido
Você
Não ter sido
Ter ido
Acho uma pena,
Você.

quinta-feira, 13 de março de 2014

uma aporia farmacêutica

Atenção:  este texto é indicado para casos extremos de solidão! 
Não há contra-indicação.


Às vezes me cansam dessas rotinas corridas que terminam em “ax”. De remédios terminados em “ax”. Que tentam suprir uma falta de alongamento e sanar as dores da existência. “Solidão não cura com aspirina”, já dizia o poeta. Acrescentaria a isso que não cura com dorflex, nem com qualquer relaxante muscular terminado em “ax”. É preciso também dizer que não se resolve no “an”, remédios terminados em “an” prometem um sono que não podem dar. Porque prometem, mas apagam. Prometem sono. Prometem. É uma dormida que te tira vida. Sonhar também é vida. Saudade de sonhar. Saudade de pensar no pesadelo do dia anterior. Não se tem mais pesadelos do dia anterior pra contar. Tudo termina numa caixinha com faixa vermelha, às vezes amarela, às vezes preta. Sem água. Saudade da água. Porque fico pensando que agora é tudo controlado. Uma noite longa ou curta? Com ou sem sonhos? Uma manhã com ou sem pique? E a dor no ombro? Para dor no ombro: relax! Relax é o único remédio terminado em “ax” pouco usado para dores no ombro. Comprimidos... Aqui e acolá. Repetem-se. Problema do fígado. É preciso ter controle sobre o que se vive. É preciso decidir sobre o que se sente. O sentimento é opcional, a dor é uma escolha. É preciso decidir. É preciso escolher. Escolha. E o controle será feito enquanto permitir este organismo, vivo? Ou quase isso.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

F5

Quem nunca?
Apertar a tecla
Pra ver se atualiza
O carinho que não chega
O status que não muda
A mensagem se foi lida
Angústia
Apertar a tecla
Offline há quanto tempo?
Dizer oi
E para o resto,
Que chegue via entrelinhas
Pelo tempo que demorei no "escrevendo"
Algo que apaguei e troquei por um smile
Angústia
Curtir o post
Pra ver se você lembra
O que me disse ontem
Cruzando os dedos
Pra que o atualizado seja sempre
 melhor que o status de antes

você me dá