quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Solilóquio da árvore

SOLILÓQUIO DA ÁRVORE.
Às vezes eu olho pra mim e penso que nunca que vou embora.
Magina! Uma desfaçatez dessa, minha senhora?!
Mas tem dia que eu eu olho longe, sonhando lá fora.
Quando em vez me vejo indo.
Quando em vez me vejo voltando
Quando em vez me vejo morrendo sem nunca saber a diferença entre o indo e o voltando.
Me vejo saltando que nem gente, sabe? Pra lá e pra cá?
Me vejo caindo firme e em pé do outro lado, como se nunca tivesse voado.
Às vezes é tanto.
Às vezes é pouco.
Às vezes dói, o pranto.
Já pensou a dor que deve ser arrancar essas raízes todas que têm aqui?
Quando em vez eu penso na dor. E nas feridas de desgarrar o que não nasceu pra ser tirado.
Será que eu ia sentir falta desse buraco?
É que… já me acostumei com o cheiro terra e de estrume de gado.
Mas sabe o que mais penso? Será que esse buraco vai sentir falta da minha robustez e da sagacidade com que eu me encaixo?
A gente sabe que não. Se tem uma coisa que não sente falta é buraco.
Tudo cabe, tudo preenche; bicho, flor, semente…
Com isso, nem se apoquente!
É que me dá uma leveza me imaginar voando…
Mesmo eu, que sou árvore.
Foto da árvore da entrada do Castelo de Dias D'ávila, na Praia do Forte (BA)

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

A Dita___

primeiramente,
(silencio)
segundamente...
cale-se
pessoalmente,
vomito o cálice
e grito
é dureza a dita
é dura
eu sinto.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

As vezes é preciso transformar o medo em palavra
O silêncio em texto
A ânsia de ser a perda
O tempo que se perde todos os dias
O desejo insaciado de ser
Misturado ao desvalor a tudo o que é concreto.
Você já se perguntou isso? Outro dia eu pensei que se ser fosse tão fácil, seria mais fácil de alcançar.
O concreto é só aquilo que somos obrigados. O resto é desejo.
É vício, paracetamol e um cochilo com pesadelos.

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Receita para sorrir mais

Tenha bons papos, de preferência, papos que te façam rir. Além de fazer rir, funciona bem quando estes forem intermináveis.
Para noites em claro, papos intermináveis funcionam muito melhor do que lágrimas.
Papos intermináveis, aliás, são ótimos para te expulsar de um bar (porque o garçom não aguenta mais) numa segunda-feira à noite, por exemplo.
E papos intermináveis tem uma vantagem final: sempre sobram e, sobrando, sempre são motivos para o papo de amanhã.
E, se você ainda não se convenceu, lembre-se da dica: papos intermináveis criam tesão intelectual. Você sabe a diferença do tesão físico para o tesão intelectual? Vou explicar! O primeiro cresce em progressão aritmética, enquanto o segundo, em progressão geométrica. Nesse sentido, não me venha com mimimi: somar é bom, mas multiplicar é IN-CRÍ-VEL.

terça-feira, 24 de maio de 2016

Silêncio

Na denúncia calada pelo medo,
No ciúme calado pelo desejo
No grito silenciado por aquele que me aponta o dedo.

De tudo, emudeço.

O grito que volta boca adentro,
No meu âmago,
Carcome as entranhas e entristeço
Silêncio. 

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Tempos Adversos

Em tempos obscuros
A palavra não vira verso
Dislike vira gesto
Não acho gif
Nem meme
Só o grito
E o vomitaço
Disputando espaço com o silêncio
Da hashtag.
De todo modo,
Que tudo isso
Vire música
Vire verso
E que sirva para a luta
De quem não se cala
Aos tempos adversos.

terça-feira, 10 de maio de 2016

O que é um corpo?

meu corpo é tudo.
Quando me perco, procuro
no cheiro, no pelo, na cor e no cabelo
persisto.
o que é este corpo à frente do espelho?
desisto?
insisto
antes de tudo, é meu.
na dor, na doença, no suspiro
na insônia e no desejo.
eu cuido?
agradeço?
muitas vezes esqueço.
o que é um corpo?
digo,
o que é o seu corpo?
O que é o meu corpo?
Onde percebo que sou eu e não o outro?
Onde deixo a capa de revista, o desejo infindo e olhar triste?
Não sei onde começa, se na ponta do cabelo ou na unha do pé.
meu corpo é meu e, quando percebo,

só por isso, emudeço.