quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Solilóquio da árvore

SOLILÓQUIO DA ÁRVORE.
Às vezes eu olho pra mim e penso que nunca que vou embora.
Magina! Uma desfaçatez dessa, minha senhora?!
Mas tem dia que eu eu olho longe, sonhando lá fora.
Quando em vez me vejo indo.
Quando em vez me vejo voltando
Quando em vez me vejo morrendo sem nunca saber a diferença entre o indo e o voltando.
Me vejo saltando que nem gente, sabe? Pra lá e pra cá?
Me vejo caindo firme e em pé do outro lado, como se nunca tivesse voado.
Às vezes é tanto.
Às vezes é pouco.
Às vezes dói, o pranto.
Já pensou a dor que deve ser arrancar essas raízes todas que têm aqui?
Quando em vez eu penso na dor. E nas feridas de desgarrar o que não nasceu pra ser tirado.
Será que eu ia sentir falta desse buraco?
É que… já me acostumei com o cheiro terra e de estrume de gado.
Mas sabe o que mais penso? Será que esse buraco vai sentir falta da minha robustez e da sagacidade com que eu me encaixo?
A gente sabe que não. Se tem uma coisa que não sente falta é buraco.
Tudo cabe, tudo preenche; bicho, flor, semente…
Com isso, nem se apoquente!
É que me dá uma leveza me imaginar voando…
Mesmo eu, que sou árvore.
Foto da árvore da entrada do Castelo de Dias D'ávila, na Praia do Forte (BA)

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