Começou assim, acordei
e dei de cara com o travesseiro. Quando me deparei pensando na
palavra “Rotina”, aquela coisa repetida e demorada e que nunca
acaba e! Se ainda fosse rápida! Rotina. Arrumar a cama, você deita
e depois tem que arrumar de novo. Rotina. A arte de fazer coisas que
não duram, que precisam infinitamente ser refeitas, que envolvem
etapas que possuem subetapas! Se ainda fosse só colocar a roupa na
máquina, mas precisa colocar no balde, separar por cor, colocar na
maquina, estender, recolher, guardar, vestir (UMA ÚNICA VEZ) e...
colocar no balde... Depois vem a questão da comida, fazer a lista,
ir ao mercado, botar no carrinho, comprar, pagar, botar na sacola,
tirar da sacola, botar no armário, tirar do armário, comer (UMA
ÚNICA VEZ) são 9 ( EU DISSE NOVE) passos para uma única ação!
Rotina. A arte de fazer mil coisas, para um objetivo simples, curto,
rápido, quase tão rápido quanto um orgasmo. Preliminares
repetem-se infinitamente para atingir algo que dura como um “UH”.
Rotina, a arte de criar etapas para coisas que deveriam acontecer
diretamente. Etapa 1, etapa 2, etapa 3... etapa 5500, “UH”,
acabou, hora de voltar pra etapa 1, etapa 2... Devo ser mesmo a única
que não vê sentido nessa quantidade absurda de etapas por cada “UH”
que gritamos no mundo. Rotina. A arte de tornar chato aquilo que é
legal. Tornar difícil o acesso àquilo que deveria ser fácil.
Acharia legal se tivesse sido fácil chegar? Fico pensando se os
salários e as contas fossem anuais e as compras no mercado
decenais. Rotina: a arte de ficar pensando sobre tudo o que é
rotina. Hora de voltar a dormir.