Me torno feminista a cada
caso de machismo que me debato. Acho que é isso. O feminismo chegou
a mim pela prática, pelo sentir na pele não por teoria. Foi o
feminismo que me fez dizer não à violência psicológica antes de
ela se tornar física. E de encarar o pedido por respeito
profissional.Hoje conheci uma mulher e, sua história de vida, tão
longe da minha, está borbulhando na minha pele até agora.
Ela é cearense, começou
a me contar, veio pro Rio, saiu do sertão brabo e veio para cá com
13 anos. Tem uma filha de 9 anos e outra de 3. Mas tão nova você já
tem uma filha de 9 anos? Perguntei. Já e mora com a minha mãe, no
Ceará, me respondeu ela. Ué, você não veio pra cá aos 13 anos,
com sua mãe? Não, vim casada. Engravidei, meus pais me obrigaram a
casar, vim pra cá, casada. Mas gente... tão nova. Ela separou
porque não deu certo. E agora está com outro marido bem melhor. Ele
não lava uma roupa, não ajuda a cuidar da filha, nem a limpar a
casa, pelo menos dá dinheiro. Cozinha bem, mas só cozinha se
estiver com desejo de cozinhar. Se esse é o marido legal, preferi
não perguntar sobre o quão ruim fora seu primeiro casamento.
- Já pensei em separar,
comentou ela. Mas tá tão difícil arrumar um homem né? É o que
todo mundo diz, depois separa fica aí sozinha cuidando da criança.
Pelo menos ele não deixa faltar nada em casa.
- Mas que adianta ter um
homem que não te faz feliz? Ser solteira nem sempre é ruim e você
é bonita e jovem, disse eu, animando-a.
- meu sonho sempre foi
estudar. E eu já disse lá em casa, vou terminar meu segundo grau,
quero nem saber!
Ela nem quer uma
faculdade, um emprego de executiva, quer o direito de terminar o
segundo grau.
Perguntei se queria uma
faculdade, ela disse que não, muito longe pra ela. Se pudesse fazer
um técnico de podóloga, já seria mais dona de si, não dependeria
do dinheiro do marido.
Pra terminar a gente
falando de nordeste, eu sempre puxo esse tema com meus conterrâneos,
ela disse que eles viajaram de férias, passaram um mês na família
dele, na Paraíba. Depois foram para o ceará e passaram 3 dias. Ela
tava morrendo de saudade da mãe e da filha, queria ficar mais, mas
ele chegou lá e não gostou, não gostou da terra dela e decidiu que
eles deveriam voltar. E eles voltaram.
A história fala de dois
nordestinos, mas a gente sabe, isso acontece em todo lugar.
Não sei pra você que
leu até aqui, mas de uma coisa eu sei e é por isso que vou lutar
sempre: Não é esse o Brasil que quero pra mim.