terça-feira, 4 de agosto de 2015

Feminismo à flor da pele

Me torno feminista a cada caso de machismo que me debato. Acho que é isso. O feminismo chegou a mim pela prática, pelo sentir na pele não por teoria. Foi o feminismo que me fez dizer não à violência psicológica antes de ela se tornar física. E de encarar o pedido por respeito profissional.Hoje conheci uma mulher e, sua história de vida, tão longe da minha, está borbulhando na minha pele até agora.
Ela é cearense, começou a me contar, veio pro Rio, saiu do sertão brabo e veio para cá com 13 anos. Tem uma filha de 9 anos e outra de 3. Mas tão nova você já tem uma filha de 9 anos? Perguntei. Já e mora com a minha mãe, no Ceará, me respondeu ela. Ué, você não veio pra cá aos 13 anos, com sua mãe? Não, vim casada. Engravidei, meus pais me obrigaram a casar, vim pra cá, casada. Mas gente... tão nova. Ela separou porque não deu certo. E agora está com outro marido bem melhor. Ele não lava uma roupa, não ajuda a cuidar da filha, nem a limpar a casa, pelo menos dá dinheiro. Cozinha bem, mas só cozinha se estiver com desejo de cozinhar. Se esse é o marido legal, preferi não perguntar sobre o quão ruim fora seu primeiro casamento.
- Já pensei em separar, comentou ela. Mas tá tão difícil arrumar um homem né? É o que todo mundo diz, depois separa fica aí sozinha cuidando da criança. Pelo menos ele não deixa faltar nada em casa.
- Mas que adianta ter um homem que não te faz feliz? Ser solteira nem sempre é ruim e você é bonita e jovem, disse eu, animando-a.
- meu sonho sempre foi estudar. E eu já disse lá em casa, vou terminar meu segundo grau, quero nem saber!
Ela nem quer uma faculdade, um emprego de executiva, quer o direito de terminar o segundo grau.
Perguntei se queria uma faculdade, ela disse que não, muito longe pra ela. Se pudesse fazer um técnico de podóloga, já seria mais dona de si, não dependeria do dinheiro do marido.
Pra terminar a gente falando de nordeste, eu sempre puxo esse tema com meus conterrâneos, ela disse que eles viajaram de férias, passaram um mês na família dele, na Paraíba. Depois foram para o ceará e passaram 3 dias. Ela tava morrendo de saudade da mãe e da filha, queria ficar mais, mas ele chegou lá e não gostou, não gostou da terra dela e decidiu que eles deveriam voltar. E eles voltaram.
A história fala de dois nordestinos, mas a gente sabe, isso acontece em todo lugar.
Não sei pra você que leu até aqui, mas de uma coisa eu sei e é por isso que vou lutar sempre: Não é esse o Brasil que quero pra mim.