sexta-feira, 21 de junho de 2013

da manifestação à volta pra casa.

Passei o dia inteiro meio tensa, sentindo algo errado, discursos errados infiltrados na manifestação, queria que fosse pacífico como na segunda, mas não queria que virasse carnaval. Me dava um pouco de medo, tudo muito acertadinho, trajeto, concentração, parecia um bloco. Chegando lá só poderia dizer que, se gente por toda a Pres. Vargas (que é duas vezes mais larga que a Rio Branco), entre a Candelaria e Afonso Pena só dá 300 Mil, então no Bola Preta não há mais que 10 mil pessoas. Porque sem dúvida aquela multidão superava o Bola Preta, superava tudo que vi no carnaval da Bahia.

Mas bem, essa multidão estava pacífica, queríamos andar até a Prefeitura e ficar lá, em frente, esperando o prefeito se pronunciar, essa era a pauta. Não passamos sequer cinco minutos lá, enquanto chegávamos, já estávam nos esperando com bombas. Lembro que ainda sentamos por meia hora pedindo paz e "não violência" e então apagaram as luzes, os puxadores de cantos, dos microfones pediam que voltássemos, apagar as luzes é covardia. Voltamos todos no mesmo instante caminhando no caminho contrário e dizendo: "Amanhã será melhor!", "Não via ter copa".
Seguimos andando e já bem longe da prefeitura as bombas ainda estavam muito perto; "Já saimos da prefeitura, a policia está nos seguindo?" nos perguntávamos, confusos. Continuamos andando, PACIFICAMENTE, até achar saidas, era muita gente. Foi então que bombas de gas lacrimogenio começaram a atacar os fotografos em cima do viaduto, algumas atravessaram o viaduto e cairam no meio do povo. Nesse momento todo mundo estava revoltado e indignado. "Por quê? So estamos voltando pra casa, rendidos." Ainda assim, as bombas continuavam, alguns revoltados se calavam, outros gritavam, outros chorava, outros quebravam pardais e mastros de bandeiras. "Escola, não!" "biblioteca, não", "hospital, não" gritavamos unanimente e éramos ouvidos. As pessoas continuavam indignadas, mas eram pacificos, não eram vandalos. Continuamos seguindo. As bombas, que até então vinham apenas de tras, vinham pela frente e lados agora. Mas ainda pensava, estou voltando pra casa. Nesse momento meu telefone toca, era minha mãe que, em seu sexto sentido, ligou na hora certa, eu, que ia atender e dizer "mãe, estou bem" não consegui falar nada, desliguei o telefone para não preocupa-la e corri. A cavalaria, o choque e sei lá mais o quê estavam vindo na minha direção e na direção dessas pessoas que estavam desarmadas, sem mascara, sem casaco pra se proteger de balas de borracha, sem nada, apenas vozes e cartazes.
Entrei na primeira esquina correndo. Me perdi dos meus amigos, alguns amigos juntos corriam e tentavam orientar os perdidos. Fomos correndo, quando entravamos em outra rua, aparecia a policia, era hora de corrr de novo, ganhar distancia e depois andar tranquilamente, nao eramos bandidos, nao queríamos correr como se estivessemos fugindo.
Em um desses momentos de calma, andando com as mãos ao alto finalmente perguntei a um menino: "pra onde estamos indo? corri tanto e não faço ideia de onde estou!", "vamos para o largo da carioca", me respondeu. "que bom, é o caminho de casa, foi o que pensei!". De repente apareceu policia atrás de nós, à direita, à esquerda. Corri muito até chegar no Largo, corria, chorava até minha respiração asmática não aguentar, fiquei sem ar, gritei um menino que corria: "por favor, me ajuda! não consigo mais correr e to sozinha", ele me socorreu prontamente, me ajudou a correr, junto a dois amigos. chegamos na Carioca, fomos comprar uma água, foi o tempo de abrir a agua, veio policia da direita, da esquerda. Fomos então pela Rua Chile, até a Republica do Paraguai, ainda não tinha noticias dos meus amigos, consegui ligar pra minha mãe e dizer que estava indo pra casa. Passamos pelo viaduto em direção à Lapa, muitos policiais armados, MUITO ARMADOS, vindo em direção à gente. andavamos com mãos ao alto. Os meninos que estavam com medo temiam os que ficaram. "Os que ficaram vão morrer, era pra ninguem ter fugido"; "Não se combate arma de fogo com voz", retrucava. "covardia", repetiamos, chorando. Chegamos finalmente na Lapa, muitas bombas, estouros, parecia guerra, não sei contra quem, ninguem estava se manifestando ali, tentavamos ir pra casa, sem metro, sem onibus, como?
Consegui falar com meus amigos, uns tinham sido encurralados e socorridos por um motorista de onibus, que abriu as portas gratuitamente e levou todo mundo pra Central. Outros estavam na Lapa, comendo num bar, ainda sem saber que a policia ia invadir a lapa, liguei chorando pra eles: "corram pra minha casa, agora!!". Foi dificil chegar em casa, correria e medo por todos os lados. Cheguei em casa, falei com meu pai no telefone, so conseguia dizer: "foi covardia, pai, a gente não tava fazendo nada" e ele me contava "aqui em Salvador também, ninguem tava fazendo nada e a policia veio". Meus amigos finalmente chegaram, correram muito da policia e do gás, tiveram que se esconder numa casa no caminho e finalmente estavam lá a salvo. O gas lacrimogenio entrava pela janela, a gente cheirava vinagre dentro de casa, enquanto via motos, carros passando na rua, fogueira na rua, tiros, bombas. Ficamos lá até hoje de manha, com medo, demoramos horas pra acredtiar no que estava acontecendo. amigos e familiares me ligando, querendo sabaer como estavamos, nos ligando pros amigos, para saber se estavam bem. Felizmente estavam. Já era meia-noite e finalmente nos sentiamos seguros, hora de tomar banho e tentar dormir, apesar das bombas.
Devo precisar de uma semana pra refletir mais criticamente sobre isso. Hoje só consigo narrar e sentir medo. Continuo com medo hoje. Descobri a força e a truculência da polícia que ainda não conhecia; não consigo prever o que será o Brasil de amanhã. Torço que seja melhor!

domingo, 16 de junho de 2013

a decisão de ir pra rua.


Nunca fui de frequentar manifestações (a bem da verdade, acho que nunca fui a uma assim, na rua mesmo), sempre apoiei, assinei petições, divulguei. Mas, até pessoas como eu, estão se sentindo convidadas a ir à rua. Chegou a hora.
Não pego ônibus, quase nunca e, até, me dou ao luxo de, de vez em quando, pegar táxi. Mas não são apenas R$ 0,20 centavos, se fossem, não estava na causa e muita gente aqui também.
Estou na causa porque, assim como a passagem aumentou R$ 0,20 centavos, pago quase metade do meu salário num apartamento no centro do Rio de Janeiro, com 41 metros quadrados. O mesmo apartamento, antes da confirmação da vinda da copa para cá, podia ser alugado por um terço (UM TERÇO) do preço.
Com R$ 10,00 talvez fizesse uma compra no supermercado que hoje não faço com R$ 30. Está impossível pagar. Imagine então pra quem ganha um salário mínimo e talvez nem possa estar nas ruas nesse momento, pois qualquer dia de trabalho que deixe de ser pago pode ser um dia a menos de comida na mesa!
Não são R$ 0,20 centavos e nem acredito que seja apenas sobre gastos.
Estamos à beira de aprovar uma lei que vai legitimar a corrupção que, sem legitimação já tá braba no país.
Estamos à beira de garantir ao estuprador que, se ele quiser violentar uma mulher, esse filho terá de nascer e ainda receberá uma ajuda do governo. Um útero que é cada vez menos meu. Amigos gays voltando a ter medo. Desde a entrada do Feliciano, desde a “condenação” dos membros do mensalão que estamos revoltados. R$ 0,20 centavos foram estopim que nos faltava para ir às ruas, numa manifestação popular e legítima. Perceber, quando finalmente resolvemos fazer isso, que vivemos numa ditadura e que aqui é proibido ir às ruas, com vinagre na bolsa ou não, tá sendo o impulso propulsor.
Eu vou pra rua, porque quero ser livre pra me manifestar, porque quero menos corrupção. Porque quero ver meus impostos revestidos à população do meu país, porque quero pagar minhas contas no fim do mês e porque acredito que esse país, dessa vez, pode, sim, mudar!
#oGIGANTEacordou #Vemprarua

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Dia sim, dia não.

Às vezes dá uma vontade louca de voltar no tempo.
Perder aquele onibus
Assistir aquela palestra,
Aquela peça.
Não dormir depois da virada de ano.
Te olhar nos olhos depois daquele abraço
perder o voo.
perder dinheiro.
pegar um taxi e ir pra tão longe.
não ter mandado aquele email.
Ter te ligado aquele dia.
Nao ter brigado aquela vez.
Não achar que a gente tinha a vida inteira pela frente.

Às vezes dá vontade, não sei.
Às vezes não, também.
Quando sim, eu fico em versos,
Quando não, eu que sigo em frente.